domingo, 15 de abril de 2012

OS MAIAS - o narrador

Aqui ficam algumas ideias sobre o narrador.


ž  O narrador é heterodiegético, ou seja, não é uma personagem da história.

ž  Assume, geralmente, uma atitude de observador.

ž  Marcas linguísticas: verbos na 3ª pessoa; pronomes e determinantes na 3ª pessoa; discurso indireto livre (nesta obra).

ž  O narrador omnisciente sabe tudo sobre as personagens: o seu passado, presente e futuro, bem como os seus sentimentos e desejos mais íntimos. É como um deus que tudo viu e tudo sabe. Verificamos que o narrador do romance conhece todo o passado dos Maias, sabendo mais sobre eles do que as próprias personagens. Isto permite-lhe arquitetar o romance, jogando com várias técnicas narrativas ao nível do tempo do discurso (por exemplo, a analepse).

ž  Um exemplo concreto do conhecimento do narrador relativamente à interioridade das personagens é o momento em que mostra conhecer os sentimentos que Afonso não expressa quando o filho, Pedro, surge perante ele, desesperado com a fuga da Monforte. (Final do cap. II – p. 44 – “Uma sombria tarde de Dezembro…”)

ž  O ponto de vista, ou perspetiva narrativa, corresponde à adoção, por parte do narrador, de uma determinada posição para contar a história.

ž  Perspetivar a diegese de acordo com uma determinada focalização não é só ver a diegese por certos olhos; é tomar em relação a ela uma posição afetiva e/ou ideológica. Constituir-se-á assim uma imagem particular da história, configurada pela subjetividade da personagem que a perspetiva.

ž  N’Os Maias é fundamentalmente sobre Carlos que recai a focalização interna: as outras personagens dependem da sua visão do mundo e é a sua subjetividade que atua como elemento filtrante da realidade observada.

ž  A focalização interna valoriza o universo psicológico de Carlos e proporciona uma visão crítica da sociedade.

ž  O ponto de vista de Carlos é sobretudo evidente nas passagens em que a obra nos dá a conhecer Maria Eduarda (o primeiro avistamento, o primeiro encontro,…). Aliás, parece ser na caracterização desta personagem feminina que o narrador mais abdica da sua omnisciência. Mas também existem outros exemplos da focalização interna de Carlos, como o jantar do Hotel Central ou o Passeio Final, em que a visão crítica da decadência do país é filtrada pelo olhar do protagonista.

ž  Ao privilegiar a focalização interna, o narrador vê, sente e julga os eventos ficcionais com e como a personagem, o que, por outras palavras, significa que as leis da subjetividade da personagem condicionam a imagem da diegese que é veiculada.

ž  A focalização interna adota por vezes a perspetiva de João da Ega. Um exemplo relevante deste ponto de vista são os episódios do jornal “A Tarde” e do Sarau no Teatro da Trindade.

ž  Outro exemplo digno de nota em termos de focalização interna, é o ponto de vista de Vilaça (pai), através do qual se apresenta a educação de Carlos em Santa Olávia.

ž  O narrador pode também optar pela focalização externa, ou seja, a simples referência aos aspetos exteriores da história contada: por exemplo, o aspeto físico das personagens, a sua vestimenta, ou os espaços físicos onde se movimentam.

ž  Esta atitude narrativa é especialmente empenhada na superficialidade e transmite, com objetividade, apenas aquilo que é observável.

ž  No entanto, n’Os Maias, a objetividade é, muitas vezes, apenas aparente. Assim, existem vários exemplos de utilização de adjetivos, de advérbios e de diminutivos que conferem subjetividade aos eventos narrados.

ž  Os exemplos que mais se destacam correspondem à descrição de Eusebiozinho ou à de Dâmaso. Encontramos aqui a focalização interventiva, com a função de comentário, aliada à adesão ou negação a/de comportamentos ou formas de estar das personagens. Pode ter uma função ideológica, por exemplo na apresentação da personagem Alencar, já velho, no jantar do Hotel Central.

5 comentários: