domingo, 15 de abril de 2012

O espaço físico e os elementos simbólicos

Aqui ficam algumas ideias sobre o simbolismo dos espaços físicos presentes na obra:

1. O Ramalhete

¨  Na opinião de Vilaça, as paredes do Ramalhete sempre foram fatais aos Maias.

¨  Está ligado à decadência nacional. Aliás, o ramo de girassóis aponta para uma atitude contemplativa de submissão, associada à incapacidade de ultrapassar esse estado rebaixado. Isto reflete não só a presença avassaladora da paixão na família Maia, mas também o estado do próprio país.

¨  O jardim do Ramalhete também é rico em simbolismo. Sobressaem três símbolos: o cipreste, o cedro e a Vénus Citereia.

¨  O cipreste e o cedro, unidos de forma incorruptível pelas suas raízes que a tudo resistem, simbolizam o Amor Absoluto.

¨  A estátua da Vénus Citereia liga-se à sedução e à volúpia da deusa do amor. Passa por três fases: na altura da morte de Pedro, enegrecia a um canto; após a remodelação do Ramalhete, reapareceu em todo o seu esplendor, como símbolo de vida feliz, não deixando, no entanto, de estar ligada à desgraça futura, enquanto símbolo feminino desestabilizador; na terceira e última fase, aparece coberta de ferrugem verde e humidade, assumindo uma simbologia negativa de destruição.

¨  Importa referir também a cascata: a água é símbolo de regeneração e purificação, e o seu fluir representa a passagem inexorável do tempo, associada à ideia de Destino.

O Ramalhete – 10 anos depois

¨  Passados dez anos, a casa é um espaço frio, decadente, “amortalhado” sob lençóis, uma vez que Carlos levou para Paris parte do recheio do Ramalhete.

¨  No jardim, a Vénus enferrujada e a cascata sem água sublinham a decadência.

¨  O Ramalhete acompanha e simboliza a glória e a decadência dos Maias.

2. A Toca (casa de Maria Eduarda nos Olivais)

¨  Uma toca é um covil de um animal, é onde este se esconde das ameaças exteriores. Assim, o nome da casa aponta para uma amor marginal, que se torna animalesco por ser incestuoso, desafiando as leis humanas, primeiro de forma inconsciente, depois bestialmente consumado.

¨  Na Toca multiplicam-se os elementos trágicos, sobretudo no quarto de Maria Eduarda: a tapeçaria com os amores de Vénus e Marte; a pintura da cabeça degolada; a coruja empalhada.

3. Santa Olávia (o solar da família Maia, em Resende, na margem esquerda do Douro)

¨  Simboliza a vida e a regeneração dos dois varões da família.

¨  É um espaço natural, conotado positivamente.

¨  Opõe-se ao espaço citadino degradado – Lisboa – local da degeneração da família.

4. Sintra

¨  É um local idílico e representa a beleza paradisíaca.

¨  O seu aspeto edénico, será, no entanto, corrompido pela intrusão dos vícios decadentes, representados pelas figuras de Eusebiozinho e Palma Cavalão, acompanhados de prostitutas espanholas.

¨  Também Dâmaso Salcede transporta o seu “chique a valer” para Sintra, tornando este Éden natural uma continuação do espaço lisboeta.

5. Lisboa

¨  Representa Portugal inteiro: “O país está todo entre a Arcada e S. Bento!” (cap. VI).

¨  Símbolo da decadência nacional, Lisboa é caracterizada pela degradação moral e pela ociosidade crónica.

¨  No último capítulo da obra, destaca-se a estátua de Camões, que assiste impotente à decadência do país.

¨  O país, estagnado e politicamente amorfo, é incapaz de se regenerar, rendendo-se à mediocridade intelectual e à adoção de modas estrangeiras, renunciando a qualquer sentido de identidade própria.

6. Coimbra

¨  Espaço da formação académica de Carlos, Coimbra é símbolo da boémia estudantil, artística e literária.

¨  Eça terá escolhido Coimbra pelo facto de esta cidade ter sido o palco da Questão Coimbrã. Além disso, foi onde o próprio Eça estudou.

7. Espaços estrangeiros

¨  Em Londres exilou-se Afonso, e em Paris exilar-se-á Carlos depois da morte do avô.

¨  Em ambas as cidades viveu Maria Eduarda e daí trouxe o requinte que a distingue das demais.

¨  Para Dâmaso, é chique ir a Paris.

¨  Paris e Londres são, no imaginário português, a Europa civilizada.

¨  Os portugueses imitam as modas estrangeiras, como é visível, por exemplo, no episódio das Corridas no Hipódromo de Belém.

¨  No entanto, nas palavras de Ega, esta importação de modas estrangeiras não resulta, pois a civilização em segunda mão fica-nos “curta nas mangas”.

¨  No fim do romance, Carlos diz que Portugal “é horrível quando se vem de fora”.

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