1.
O Ramalhete
¨
Na opinião de Vilaça, as paredes do Ramalhete
sempre foram fatais aos Maias.
¨
Está ligado à decadência nacional. Aliás, o ramo
de girassóis aponta para uma atitude contemplativa de submissão, associada à
incapacidade de ultrapassar esse estado rebaixado. Isto reflete não só a
presença avassaladora da paixão na família Maia, mas também o estado do próprio
país.
¨
O jardim do Ramalhete também é rico em
simbolismo. Sobressaem três símbolos: o cipreste, o cedro e a Vénus Citereia.
¨
O cipreste e o cedro, unidos de forma
incorruptível pelas suas raízes que a tudo resistem, simbolizam o Amor
Absoluto.
¨
A estátua da Vénus Citereia liga-se à sedução e
à volúpia da deusa do amor. Passa por três fases: na altura da morte de Pedro,
enegrecia a um canto; após a remodelação do Ramalhete, reapareceu em todo o seu
esplendor, como símbolo de vida feliz, não deixando, no entanto, de estar
ligada à desgraça futura, enquanto símbolo feminino desestabilizador; na
terceira e última fase, aparece coberta de ferrugem verde e humidade, assumindo
uma simbologia negativa de destruição.
¨
Importa referir também a cascata: a água é
símbolo de regeneração e purificação, e o seu fluir representa a passagem
inexorável do tempo, associada à ideia de Destino.
O
Ramalhete – 10 anos depois
¨ Passados dez anos, a casa é um espaço frio, decadente,
“amortalhado” sob lençóis, uma vez que Carlos levou para Paris parte do recheio
do Ramalhete.
¨ No jardim, a Vénus enferrujada e a cascata sem água
sublinham a decadência.
¨ O Ramalhete acompanha e simboliza a glória e a
decadência dos Maias.
2.
A Toca (casa de Maria Eduarda nos Olivais)
¨ Uma toca é um covil de um animal, é onde este se
esconde das ameaças exteriores. Assim, o nome da casa aponta para uma amor
marginal, que se torna animalesco por ser incestuoso, desafiando as leis
humanas, primeiro de forma inconsciente, depois bestialmente consumado.
¨ Na Toca multiplicam-se os elementos trágicos, sobretudo
no quarto de Maria Eduarda: a tapeçaria com os amores de Vénus e Marte; a
pintura da cabeça degolada; a coruja empalhada.
3.
Santa Olávia (o solar da família Maia, em Resende, na margem esquerda do Douro)
¨ Simboliza a vida e a regeneração dos dois varões da
família.
¨ É um espaço natural, conotado positivamente.
¨ Opõe-se ao espaço citadino degradado – Lisboa – local da
degeneração da família.
4.
Sintra
¨ É um local idílico e representa a beleza paradisíaca.
¨ O seu aspeto edénico, será, no entanto, corrompido
pela intrusão dos vícios decadentes, representados pelas figuras de
Eusebiozinho e Palma Cavalão, acompanhados de prostitutas espanholas.
¨ Também Dâmaso Salcede transporta o seu “chique a
valer” para Sintra, tornando este Éden natural uma continuação do espaço
lisboeta.
5.
Lisboa
¨ Representa Portugal inteiro: “O país está todo
entre a Arcada e S. Bento!” (cap. VI).
¨ Símbolo da decadência nacional, Lisboa é caracterizada
pela degradação moral e pela ociosidade crónica.
¨ No último capítulo da obra, destaca-se a estátua de
Camões, que assiste impotente à decadência do país.
¨ O país, estagnado e politicamente amorfo, é incapaz de
se regenerar, rendendo-se à mediocridade intelectual e à adoção de modas
estrangeiras, renunciando a qualquer sentido de identidade própria.
6.
Coimbra
¨ Espaço da formação académica de Carlos, Coimbra é
símbolo da boémia estudantil, artística e literária.
¨ Eça terá escolhido Coimbra pelo facto de esta cidade
ter sido o palco da Questão Coimbrã. Além disso, foi onde o próprio Eça
estudou.
7.
Espaços estrangeiros
¨ Em Londres exilou-se Afonso, e em Paris exilar-se-á
Carlos depois da morte do avô.
¨ Em ambas as cidades viveu Maria Eduarda e daí trouxe o
requinte que a distingue das demais.
¨ Para Dâmaso, é chique ir a Paris.
¨ Paris e Londres são, no imaginário português, a Europa
civilizada.
¨ Os portugueses imitam as modas estrangeiras, como é visível,
por exemplo, no episódio das Corridas no Hipódromo de Belém.
¨ No entanto, nas palavras de Ega, esta importação de
modas estrangeiras não resulta, pois a civilização em segunda mão fica-nos
“curta nas mangas”.
¨ No fim do romance, Carlos diz que Portugal “é horrível
quando se vem de fora”.
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